Mendoça, Francisci - COMMENTARIORUM IN IV. LIBROS REGVM, &c. Tomus Secundus. Lvgdvni. Sumptibus Iacobi Cardon. ...

Mendoça, Francisci - COMMENTARIORUM IN IV. LIBROS REGVM, &c. Tomus Secundus. Lvgdvni. Sumptibus Iacobi Cardon. 1628. (20) 653 (113) pp. 34,7 cm x 22,5 cm. E.
Segundo e raríssimo tomo dos Comentários aos Livros dos Reis pelo importante padre jesuíta lisboeta Francisco de Mendonça (1573-1626).
A biografia de Mendonça foi extensivamente explorada por Barbosa Machado (T. II, pp. 203-206), sabendo-se dele que estudou inicialmente no Colégio de Santo Antão de Lisboa e que «ʃahio elegante Poeta, eloquente Orador, profundo Theologo, inʃigne Eʃcriturario, e hum dos mais celebres Declamadores Evangélicos do ʃeu tempo.» Foi também lente em Santo Antão, no Colégio de Coimbra e, mais tarde, na Universidade de Évora, posição na qual assina esta obra e instituição na qual se havia doutorado em Filosofia em 1607.
A partir de 1625, toma as rédeas dos importantes Colégios jesuíticos de Coimbra e de Évora, passando depois a Procurador da Província de Portugal em Roma, um dos mais importantes cargos eclesiásticos à época no país. Partiu pouco depois, por isso mesmo, para a Cidade Eterna, em visita ao Loreto; mas, no seu regresso, acabará no Colégio de Lyon, em França, onde falece após doença grave e repentina a 3 de Junho do ano seguinte, aos 53 anos de idade.
Barbosa Machado prova ainda que foi Mendonça amplamente citado por inúmeros autores importantes. Innocencio diz dele que foi «um dos mais beneméritos cultores da língua portugueza, mas ainda um dos melhores exemplares entre nós da eloquencia christã. Nos seus discursos se encontra além da solidez e elevação da doutrina, estylo puro, claro, enérgico, e numeroso; imagens brilhantes, e sempre naturaes, elocução selecta, conveniente e harmoniosa: o que tudo, sobre lhes merecer um distincto logar entre os nossos escriptores mais elegantes, os collocam no numero d'aquelles em que se acham com dignidade desempenhadas as difficeis obrigações do ministério do púlpito. Não falta quem affirme que este pregador fora o primeiro que introduzira os conceitos nos sermões, passando este gosto e estylo (de que depois tanto se abusou) para os pregadores de Hespanha e Itália.» (T. II, p. 13).
Esta obra é o culminar do pensamento de Mendonça sobre os quatro originais Livros dos Reis, que ocupou parte da sua obra desde, pelo menos, a publicação do Tomo Primo pela Universidade de Coimbra, em 1621, com algumas reedições, incluindo, no mesmo ano, a do impressor lionês Jacob Cardon, que aqui surge. Este mesmo manda imprimir a primeira edição francesa deste Tomus Secundus logo em 1625, não sabemos se devido à presença de tão insigne padre na sua cidade, o que nos parece provável. Não há registo desta edição em particular de 1628 em Barbosa Machado ou Innocencio.
O belíssimo frontispício de feição proto-barroca deste volume foi aberto pelo grande gravador francês Charles Audron (1594-1674), e sobre ele, ladeada pelos Reis de Israel, domina a Senhora, a quem Mendonça dedicava, aparentemente, um culto muito fervoroso.
As armas de Portugal figuram na dedicatória a D. João, futuro rei, o quarto deste nome, na qualidade de duque de Barcelos e de filho do duque de Bragança D. Teodósio II, outrossim invocado.

Bom estado geral de conservação. Encadernação setecentista em carneira, com ferros a ouro na lombada ligeiramente nervurada. Corte carminado inteiro. Miolo muito alvo, ainda que afectado pelo bicho ao longo do volume, este mais prevalente na margem exterior e afectando por vezes a mancha, sem grande prejuízo da leitura. Manchas muito pontuais e ténues de acidez e humidade nas primeiras e últimas folhas.

Extremamente raro.

Bibliografia auxiliar:
Barbosa Machado, T. II, pp. 203-206.
Innocencio, T. III, pp. 12