JOSÉ JOAQUIM TEIXEIRA LOPES (1837-1918)

JOSÉ JOAQUIM TEIXEIRA LOPES (1837-1918)

DUAS ESCULTURAS COM COLUNAS / VITRINAS

“MENDIGO” – Escultura em barro moldado, relevado e policromado de dimensões bastante razoáveis e de grande gestualismo e pormenor, trabalho do séc. XIX. A figura está representada de pé em vulto perfeito, recostada a tronco de árvore, apoiada por muleta na axila esquerda com o braço flectido e mão fixa, segurando o chapéu de aba larga com o dedo polegar e a mão direita aberta a solicitar a caridade duma esmola. Todo o conjunto emociona e apela à generosidade de quem com ele se cruzar. Rosto de traços bem demarcados de expressão sofrida e de olhar frontal, com cabelo ondulado e longa barba entrelaçada. Traja calças remendadas, subida na perna esquerda pelo joelho, deixando a descoberto uma ferida tapada e envolvida por pano, camisa e casaco roto, encimado por duas sacolas a tiracolo e uma cabaça sobre o bolso direito. Assente sobre base quadrangular, com os frisos que percorre a base, marmoreados. Frente da base com a inscrição incisa [MENDIGO]. Rara e invulgar escultura, considerada uma das mais expressivas e melhores figuras de Joaquim Teixeira Lopes. Sinais de uso, pequenas esbeiçadelas, desgastes e possíveis restauros antigos.

 

“SALTEADOR” – Escultura em barro moldado, relevado e policromado de dimensões bastante razoáveis e de grande gestualismo e pormenor, trabalho do séc. XIX. A figura está representada de pé em vulto perfeito, recostada a tronco de árvore, em posição de passo largo, segurando com ambas as mãos uma espingarda de pederneira, notando-se ligeiramente uma pistola na faixa que tem à cintura, junto ao cotovelo do braço esquerdo. Rosto de traços bem demarcados, numa expressão viril e rebelde, de olhar fixo e atento a qualquer movimento, de barba entrelaçada, com chapéu de aba larga sobre a cabeça, sobressaindo o seu cabelo ondulado e esvoaçante. Traja calções com faixa cingidos à cintura, camisa semiaberta e casaco ligeiramente descaído somente sobre o ombro direito. Assente sobre base quadrangular, com os frisos que percorre a base, marmoreados. Frente da base com a inscrição incisa [SALTEADOR]. Interessante e invulgar escultura, considerada uma das figuras mais conseguidas de Joaquim Teixeira Lopes. Sinais de uso, pequenas esbeiçadelas, desgastes e possíveis restauros antigos.

Obs. Peças idênticas vêm referenciadas no “CATÁLOGO DA FÁBRICA CERÂMICA E DE FUNDIÇÃO DAS DEVEZAS”. Edição de 1910. Vila Nova de Gaia. Página Nº 20, estampa com o número 118 (Mendigo) & Página Nº 21, estampa com o número 120 (Salteador) e no “CATÁLOGO MOSTRUÁRIO DA FÁBRICA DAS DEVEZAS”, apresentando um formato maior do anterior catálogo, mais ou menos quadrangular, sem paginação, mas com muita mais nitidez notando-se com perfeição a sua policromia, apesar de se encontrar ilustrado a negro, com o número 37 (Mendigo) e o número 38 (Salteador).

 

“COLUNAS / VITRINAS” – Em várias madeiras patinadas, trabalho português do séc. XX. Corpo de formato quadrangular ao alto, com frontais e laterais envidraçados, assentes sobre pés de bolacha. Tampos emoldurados, com pedra mármore em tons de rosa, cinza e preto, encastrados por sistema de rebaixe. Interiores forrados a papel veludado em tons de encarnado, com uma prateleira ao centro.

Dim: 88x32x32 cm (Mendigo)

Dim: 88x48,5x34,2 cm (Salteador)

Dim: 99x43x43 cm (Vitrinas)

 

Nota: José Joaquim Teixeira Lopes, ou Teixeira Lopes (Pai) – Escultor e ceramista portuguê s. Nasceu em São Mamede de Ribatua, no dia 24 de Fevereiro de 1837. Foi pai do grande escultor António Teixeira Lopes e do arquitecto José Teixeira Lopes. Com 13 anos foi trabalhar como aprendiz no atelier do Professor de escultura da Academia Portuense de Belas Artes, Manuel da Fonseca Pinto, na confecção de ornamentos de proas de navios, onde permaneceu 6 anos. Estudou ainda na Escola Industrial do Porto e, com dois professores da referida Academia, João António Correia e Francisco José Resende, com quem desenvolveu a sua técnica de desenho e modelação do barro. Passou depois cerca de 1 ano em Paris, onde estudou com o célebre escultor François Jouffroy e, ao retornar, dedicou-se intensamente à cerâmica. Na Fábrica de Cerâmica das Devesas, da qual foi fundador, sócio e principal artista, criou um curso de desenho e modelação, o qual eventualmente deu origem à Escola Industrial Passos Manuel, em Vila Nova de Gaia.

Entre as suas numerosas obras, destacam-se a estátua de Passos Manuel em Matosinhos, a estátua de D. Pedro V, na Praça da Batalha do Porto; o relevo Baptismo de Cristo em bronze no baptistério da Sé do Porto, estando o gesso original na Igreja Matriz de S. Mamede de Ribatua; o desastre da Ponte das Barcas, ocorrido em 1809;  as estátuas “União faz a força”, “Filho pródigo”, “Caridade”, “Conde Ferreira”, e diversas estátuas alegóricas. José Joaquim Teixeira Lopes foi também pintor de azulejos e criador de dezenas de figuras em terracota pintada, representando figuras e costumes regionais. Atendendo à grande quantidade de artistas a quem ensinou ou que com ele privaram, Teixeira Lopes (Pai), foi uma das mais influentes figuras da Arte em Portugal, no período do Romantismo. Foi agraciado com a Ordem de Cristo, condecoração que lhe foi atribuída por El-Rei D. Luís, e ganhou diversos prémios em exposições nacionais e internacionais. José Joaquim Teixeira Lopes, faleceu em 1918, em Vila Nova de Gaia, estando sepultado no jazigo-capela da família, na sua terra natal. Ref. Biog.Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses. [págs. 282-283] // Michael Tannock. [pág. 93] // Casa-Museu Teixeira Lopes - Galerias Diogo de Macedo. [págs. 54-55].